passo todos os dias naquela esquina e lá está ela: uma cigana, que busca as mãos dos transeuntes para ganhar a vida.
vezes sem conta, a mesma mulher estende a mão. a cigana lê os vincos e professa.
pela assiduidade da leitura, todos os dias ímpares e enublados, imagino a importância das palavras da cigana na vida daquela mulher. imagino todos os seus passos comedidos, sempre com aqueles conselhos na cabeça, contendo seus actos e suas palavras para não contrariá-los. rege a sua vida sob aquele guião.
a cigana sabe disso. tenta dizer-lhe que não viva só daquilo. que há outros caminhos pela frente. ela própria sabe que o seu ofício pouco tem de científico e aquela dependência aflige-a. é uma responsabilidade demasiado grande para um simples exercício de adivinhação.
já faz uma semana que não vejo a cigana naquela esquina. e três dias desde a última vez que a mulher passou ali, em prantos.
tive que inventar a história para justificar os factos.
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