terça-feira, 4 de novembro de 2008

na palma da mão


passo todos os dias naquela esquina e lá está ela: uma cigana, que busca as mãos dos transeuntes para ganhar a vida.

vezes sem conta, a mesma mulher estende a mão. a cigana lê os vincos e professa.

pela assiduidade da leitura, todos os dias ímpares e enublados, imagino a importância das palavras da cigana na vida daquela mulher. imagino todos os seus passos comedidos, sempre com aqueles conselhos na cabeça, contendo seus actos e suas palavras para não contrariá-los. rege a sua vida sob aquele guião.

a cigana sabe disso. tenta dizer-lhe que não viva só daquilo. que há outros caminhos pela frente. ela própria sabe que o seu ofício pouco tem de científico e aquela dependência aflige-a. é uma responsabilidade demasiado grande para um simples exercício de adivinhação.

já faz uma semana que não vejo a cigana naquela esquina. e três dias desde a última vez que a mulher passou ali, em prantos.

tive que inventar a história para justificar os factos.

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