quinta-feira, 30 de outubro de 2008

pragmatismo romântico

era pragmático, acima de tudo. romântico também. normalmente duas características que não costumam andar juntas, mas que no seu caso coexistiam de forma pacífica.

ao terceiro desgosto amoroso, prometeu a si próprio uma contrapartida: por cada desprazer que se seguisse, compensaria em trabalho, exigindo de si uma certa quantia monetária, proporcional ao tamanho do sentimento.

assim foi. o seu lado romântico lançava-o de cabeça em cada relação. em várias relações. cabeçada na parede ali, pedrada na testa acolá. meses de recuperação, que se revertiam na conta bancária. ali não havia ressaca, entrava só em modo trabalhador-insaciável e recuperava do desgosto.

proporcionalmente ao seu dinheiro, aumentaram as pretendentes e as pretendentes aumentaram os problemas.

a sua vida foi repleta de paixões e quedas do cavalo. milionarizou-se à custa disso.

quando morreu, era o 83º homem mais rico do país.

o estado ficou com tudo, pela inexistência de herdeiros.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

prancha de isopor

lembro de quando eu era pequeno: tinha uma prancha de isopor mas não tinha ondas.

hoje tenho ondas e não tenho prancha de isopor.




terça-feira, 28 de outubro de 2008

és uma burra, compadre!

"anda Jocas, vamos dar um pulo a Viana do Castelo para visitar o meu compadre!"

assim se deu o mote, nessa mítica viagem Lisboa-Rossas, para se fazer um pequeno desvio na rota e visitar um amigo de longa data.

o compadre tinha uma farmácia em Viana. eles chegaram lá por volta da hora do almoço, e "como o comércio estava todo fechado, fomos almoçar a um restaurante onde comemos muitíssimo bem!". depois das 15h, foram ter à tal farmácia. o meu avô só disse: "Jocas, se o compadre reconhecer-me não vai me dizer olá..."

o meu avô entrou na farmácia do compadre e rodeou o balcão. o farmacêutico observou-o.

"és uma burra, compadre!" exclamou o farmacêutico, quando reconheceu o meu avô. deram um forte abraço e o compadre avisou a esposa que tinha uns amigos para o lanche.

a viagem durou um dia inteiro. chegaram a Rossas bem depois da meia noite.

uma história que se conta aos netos, de uma viagem que seria como tantas outras.

sábado, 25 de outubro de 2008

my list, killers



let me wrap myself around you
let you show me how I see
and when you come back in from nowhere
do you ever think of me?

when your heart is not able
let me show you how much I care

i need those eyes to tide me over
i’ll take your picture when I go
it gives me strength and gives me patience
but I’ll never let you know
i got nothing on you baby
but I always said I try

let me show you how much I care

cause sometimes it gets hard
and don’t she know

don’t give the ghost up just clench your fist
you should have known by now you were on my list
don’t give the ghost up just clench your fist
you should have known by now you were on my list
don’t give the ghost up just clench your fist
you should have known by now you were wrong (on my list)

when your heart is not able
and your prayers they’re not fables
let me show you (let me show you)
let me show you (let me show you)
let me show you how much I care oh

ir e voltar

gosto de ir longe.

sem dúvida que gosto de ir longe.






mas voltar para casa é tão bom!

sábado, 18 de outubro de 2008

a fronteira

o lugar é inóspito. a poucos quilómetros da fronteira entre o gelo e a neve. distante de tudo o resto.

ele nasceu ali. cresceu ali. a sua vida é ali e é aquilo. as suas pessoas, as pedras que são quase suas. conhece outras coisas, através da televisão que só aqui chega por satélite, e isso chega-lhe. gosta quando sai de manhã com os animais, acompanhando-os à comida. gosta de voltar à hora em que as crianças mais novas saem da escola. conhece-as desses encontros breves e de outros momentos espalhados pela pequena vila. cumprimenta a todos e é bem recebido em qualquer lugar. caminha por ali com a calma que o lugar exige. fala alto e em modos brutos, tal como aprendeu no recreio da escola, quando era uma criança mais nova. come e bebe aos modos do lugar, sempre em excesso. e o tempo arrasta-se lentamente, como o arado na terra que descongela após o inverno.

a linha que o pode levar a outras estações é logo ali. todos os dias, em diferentes horas, mas com a mesma regularidade, passa ali aquilo que podia ser a mudança na sua vida.

não vai. se por desconfiança do que está pra lá, se por receio de nunca voltar ali, nem ele pensou nisso. não vai, simplesmente por que não pensa nisso.

só assim consigo eu justificar ali a existência.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

há luar na sibéria

a viagem segue conforme planeado. tudo na hora certa, sem contratempos, numa estranha perfeição de planeamento.

apesar de tudo, ainda não estou satisfeito. as paisagens não me agradam e temos uma enorme dificuldade em comunicar com as pessoas. só o básico e com incertezas. já sabia que ia ser assim, mas não pensei que me abatesse tanto. é demasiado frustrante não ter ideia sequer do que as pessoas nos dizem, e ainda mais não ter forma de clarificar ainda mais o que quero dizer.

hoje, pelo menos, houve um momento que me deixou feliz. de tomsk para novosibirsk, vinha junto à janela. no escuro da sibéria, fiquei feliz de ver um luar como eu gosto: sem nuvem que cubra estrela e um quarto crescente melhor que lampião em estrada velha, de horizonte a horizonte só o céu estrelado sobre a cabeça.

lembrou-me o alentejo. e o sertão do ceará. fiquei feliz. também há luar na sibéria.



sábado, 4 de outubro de 2008

no avião

cada minuto que passa, eu mais longe. literalmente.

o avião avança e o caminho para trás se alonga. estou bem. não sei para o que vou, e gosto disso.
gosto desse sentimento, de não ter o controle sobre o que virá, de nem saber muito bem o que espero. agrada-me por que sei que, daqui a nada, vou estar com aquele sorriso besta, que só me lembra as margens do Titicaca.


Tem gente que viaja para conhecer pessoas, outras que viajam para conhecer culturas. O que eu mais gosto, na verdade, são as paisagens. Prefiro ir para um lugar sem saber nada sobre ele. Prefiro chegar lá e me espantar com o luxo de uma paisagem simples. A ignorância tem esse benefício, a surpresa.

obrigado a quem me desejou boa viagem. obrigado a quem acompanhar o nosso blog. obrigado a quem me deixou no aeroporto e só não veio comigo por razões maiores. vou pensar em vocês em cada momento que parar para pensar.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

condicional, los hermanos



quis nunca te perder
tanto que demais
via em tudo o céu
fiz de tudo o cais
dei-te pra ancorar
doces deletérios

e quis ter os pés no chão
tanto eu abri mão
que hoje eu entendi
sonho não se dá
é botão de flor
o sabor de fel
é de cortar.

eu sei é um doce te amar
o amargo é querer-te pra mim
do que eu preciso é lembrar, me ver
antes de te ter e de ser teu, muito bem...

quis nunca te ganhar
tanto que forjei
asas nos teus pés
ondas pra levar
deixo desvendar
todos os mistérios.

sei, tanto te soltei
que você me quis
em todo lugar
lia em cada olhar
quanta intenção
eu vivia preso!

eu sei, é um doce te amar
o amargo é querer-te pra mim.
do que eu preciso é lembrar, me ver
antes de te ter e de ser teu
o que eu queria, o que eu fazia, o que mais,
que alguma coisa a gente tem que amar, mas o quê?
não sei mais!

os dias que eu me vejo só são dias
que eu me encontro mais e mesmo assim
eu sei tão bem: existe alguém pra me libertar!

ambíguo

na sua frente, a ferrovia.

as opções eram várias: partir ou ficar. partindo, os destinos eram muitos: longe ou perto. ficando, teria de enfrentar tudo, com medo ou com coragem.

optou. entrou sem saber pra onde ir. saiu sem saber onde ficava. gostou.

sabia que fugia, mas não lhe desagradava a ideia. fugir não era medo, era necessidade. a sua cabeça era como as suas opções: duas. uma aqui, querendo ficar. outra longe, querendo ir pra mais longe ainda. ficou a meio do caminho.

longe seria muito, perto seria pouco. ali, a distância era ideal. pensava em tudo com o equilíbrio certo entre todos os elementos. analisava, pensava, voltava atrás. a distância era a ideal.

pensou voltar pra trás. pensou seguir adiante. ficou.

agora, peito livre e cabeça leve. a calma o acompanha. a sucessão de pensamentos é encadeada, com ordem, lógica e, sobretudo, sem paixão.

duas coisas que não se perdem ao mesmo tempo: a paixão e a cabeça.

pra me tirar do sério

4 coisas que uma mulher pode dizer pra me tirar do sério:

- que gosta de usar vestidos;

- que adora o cheiro do shampoo do Hilton de Bruxelas;

- que Paris não é essas coisas todas como a maioria das pessoas pintam;

- que gostava de fazer uma viagem à Bolívia.

...eu não sei, mas já disse a alguém que o meu GPS tem uma rota marcada para Bergen?





quinta-feira, 2 de outubro de 2008

o começo


tentei um texto simples, pra inaugurar o lugar. nada

tentei uma história romântica, pra enfeitar o sítio. difícil

tentei uma fábula, romântica e simples, pra esconder a tristeza do início. ridícula


por quê começo sempre as coisas com tom de final?