sábado, 18 de outubro de 2008

a fronteira

o lugar é inóspito. a poucos quilómetros da fronteira entre o gelo e a neve. distante de tudo o resto.

ele nasceu ali. cresceu ali. a sua vida é ali e é aquilo. as suas pessoas, as pedras que são quase suas. conhece outras coisas, através da televisão que só aqui chega por satélite, e isso chega-lhe. gosta quando sai de manhã com os animais, acompanhando-os à comida. gosta de voltar à hora em que as crianças mais novas saem da escola. conhece-as desses encontros breves e de outros momentos espalhados pela pequena vila. cumprimenta a todos e é bem recebido em qualquer lugar. caminha por ali com a calma que o lugar exige. fala alto e em modos brutos, tal como aprendeu no recreio da escola, quando era uma criança mais nova. come e bebe aos modos do lugar, sempre em excesso. e o tempo arrasta-se lentamente, como o arado na terra que descongela após o inverno.

a linha que o pode levar a outras estações é logo ali. todos os dias, em diferentes horas, mas com a mesma regularidade, passa ali aquilo que podia ser a mudança na sua vida.

não vai. se por desconfiança do que está pra lá, se por receio de nunca voltar ali, nem ele pensou nisso. não vai, simplesmente por que não pensa nisso.

só assim consigo eu justificar ali a existência.

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